A biblioteca havia sido escolhida como o local de transição. Entre o mundo mortal, e o Sonhar. Ela era uma das chamadas regiões brandas. Locais onde o véu que divide ambos os mundos é muito fino. E por vezes, se fundem. Desde desertos, onde miragens não são sempre miragens. Ou vozes ao vento nem sempre são coisas de nossas cabeças. Era magnífico, e ao mesmo tempo simplório demais, como algo tão misterioso, mítico e surreal como os sonhos, estavam a uma porta de distância do resto do mundo. Haviam outras entradas. Detrás de portas velhas, em mansões abandonadas. Em troncos vazios de árvores. Tudo estava interligado.
Conectado.
O homem de longos cabelos negros e ondulados andava de um lado para o outro, buscando alguns livros. Puxou um da estante, e ao abri-lo, dezenas de pássaros saíram, passando rente ao seu rosto, voando para o teto, que na verdade era o profundo céu noturno, cheio de estrelas e constelações.
— Onde deixei aquele livro?
Ao fechar o livro, o colocou de volta na estante. Deslizou a mão pelos outros, e ao fazer isso, cada um emitia um barulho diferente. Característico das histórias que carregavam. Ao achá-lo, seguiu para a mesa. Usava um grande manto negro, que deslizava pelo chão. Era macio, fino e instigante como a noite. Sentou-se na cadeira e abriu o livro. Se dispôs a lê-lo, paciente e silencioso. A luz vinha de um pequeno Sol, preso dentro de um lampião. Ali dentro, de tão impregnados de areia de sonho e do próprio material que o Sonhar era feito, tudo era maleável. Tudo se criava, tudo se transformava. De dentro da manga de seu manto, uma cobra negra deslizou para a mesa.
Convidado
Convidado
Once upon a dream
O sol se fora como um pássaro apressado em busca de uma árvore para criar seu ninho. A escuridão banhou o céu, cobrindo as nuvens brancas, tingindo as criaturas coloridas de preto. Corvos crocitavam, morcegos movimentavam suas grandes asas e os lobos uivavam. O relógio de bolso era pressionado entre os dedos. A cor chamativa, quase cristalina, que se localiza entre o verde e o violeta, observava os ponteiros, enquanto o sorriso travesso transparecia nos lábios carmesins. A forma humana se desfez num tilintar de sinos. O líquido era incolor e inodoro. Percorria o piso em direção a vários lugares, porém, a movimentação cessou na porta da biblioteca. A tapeçaria florida, os móveis rústicos, os globos que demonstravam todos os distritos de Gaia. O fluido escorregou por baixo da porta, se espalhando, analisando, observando o homem que tocara os livros do local. Mas logo Carmélia tomou forma, crescendo, se redesenhando para o corpo anterior. — A serpente... ela parece sempre me reconhecer, mesmo que eu use diversas formas. Pensei ter ouvido sua voz, e estava correta... Eu conheci o novo jardineiro. Um homem difícil. Infelizmente ele foi destroçado por Nêmesis durante uma crise de fúria. Ela não é um dos cães mais dóceis que essa família já teve. Dedilhou vagarosamente os ombros de Marcus, inclinando o corpo sobre as costas dele, selando um beijo carinhoso em seus lábios. Girou os braços, fazendo o manto negro desaparecer. O rubro de seu vestido contrastava com a pele alva e os cabelos negros. Carmélia puxou uma das cadeiras, se sentou e apoiou ambas as mãos sobre a mesa. O olhar fora direcionado ao marido, que parecia estar atento a seus afazeres. — Família. Há anos passei a acreditar que existem ligações com quem compartilhamos o sangue. E mesmo que não exista a possibilidade de escolhermos a nossa família, algumas vezes essas ligações se tornam uma força poderosa. Ela é uma esfera brilhosa que nos alimenta de poder, mas também pode ser escura, fria, sombria, que nos causará muitos arrependimentos... Eu gostaria que você me ajudasse com Verona. A pequena tem se demonstrado mais bestial a cada dia. Um suspiro pesado escapou, e a mão esquerda se uniu ao braço do homem. A mão de tamanho mediano e dedos finos percorreu a de Marcus, subindo com delicadeza até o rosto do mesmo. Os dedos acariciaram o queixo, contornando a face, parando nos lábios. — Já quis experimentar o sexo tântrico? Fiquei me perguntando o motivo de nunca termos tentado. Parece ser divertido. |
Carmélia von Castellamare
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